Cenário Externo
Outubro manteve o fio condutor que marcou os últimos meses: política e dados econômicos caminharam lado a lado, testando o humor dos mercados. Nos Estados Unidos, o governo federal seguiu parcialmente paralisado em parte do mês e a escassez de estatísticas oficiais aumentou a incerteza, o relatório de emprego foi adiado e o CPI só saiu no fim do período.
Mesmo assim, o número de preços trouxe algum alívio: a leitura anual do índice cheio e do núcleo ficou em 3%, ligeiramente melhor do que muitos esperavam, enquanto a composição reduziu temores de repasses inflacionários mais persistentes ligados às tarifas.
Em meio a esse quadro, o Federal Reserve cortou a taxa básica em 0,25 ponto percentual pela segunda reunião consecutiva, levando a Fed Funds para 3,75%–4,00%. A decisão veio com dissenso: houve voto por corte maior e voto por manutenção, um lembrete de que a leitura do cenário está mais nebulosa, como reconheceu o próprio Jerome Powell ao defender prudência com a metáfora do motorista sob neblina.
Na frente geopolítica, o mês registrou uma trégua relevante: Estados Unidos e China avançaram em um acordo que suspende tarifas por um ano e reabre canais de comércio e tecnologia, enquanto Washington também sinalizou termos com outras economias asiáticas para garantir acesso a insumos estratégicos, como terras raras.
Cenário Local
No Congresso, foi aprovada a isenção de Imposto de Renda para rendas até R$ 5 mil mensais e instituída retenção de 10% sobre dividendos acima de R$ 50 mil por mês. m paralelo, a rejeição da MP 1.303 (tributação sobre investimentos) aumentou a pressão fiscal para 2026.
Ainda assim, a inflação corrente seguiu comportada: leituras recentes do IPCA e do IPCA-15 ficaram abaixo do consenso, com arrefecimento de serviços e contínua descompressão de bens e alimentos. O Banco Central manteve comunicação firme, reiterando a necessidade de juros elevados por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta, em um quadro que combina desaceleração gradual da atividade, desemprego ainda baixo e incertezas fiscais.
No front externo, uma reaproximação diplomática com os Estados Unidos reduziu o ruído comercial, enquanto na região a agenda pró-mercado na Argentina ganhou fôlego após o bom desempenho do governo nas eleições de meio de mandato, o que ajudou o apetite por ativos latino-americanos.
Renda Fixa
Os juros globais cederam após o corte do Fed e o anúncio do fim do QT, mas a falta de dados oficiais nos EUA manteve a volatilidade. O tema crédito voltou às manchetes com casos pontuais de falência no setor automotivo americano, algo monitorado pelos investidores.
No Brasil, a combinação de inflação benigna e comunicação conservadora do Banco Central produziu uma leitura equilibrada: as expectativas de juros ficaram menores os índices, outubro foi positivo. O CDI rendeu +1,28%. Entre os títulos públicos, os prefixados, medidos pelo IRF-M, avançaram +1,37%, enquanto os papéis indexados à inflação, representados pelo IMA-B, subiram +1,05%.
Renda Variável
A temporada de balanços seguiu como peça-chave para as bolsas. Nos Estados Unidos, a leitura de lucros reforçou a resiliência das grandes companhias e manteve tecnologia no centro do palco, com as “Magnificent 7” retomando protagonismo. O S&P 500 avançou +2,27% em outubro, enquanto o MSCI AC — que agrega ações globais — subiu +2,18%, e o MSCI EM — referência para emergentes — registrou +4,12%, apoiado por dólar mais fraco e melhora de sentimento em Ásia e América Latina.
No Brasil, o mês teve duas fases: correção na primeira quinzena e recuperação na segunda, em linha com o rali global e com dados locais mais benignos de inflação. O Ibovespa encerrou com alta de +2,26%, renovando máximas nominais e com contribuição relevante de siderurgia e mineração, beneficiadas pelo movimento do minério de ferro e por expectativas regulatórias no setor. O conjunto de resultados domésticos veio, em média, acima do esperado, com destaque para companhias ligadas ao ciclo doméstico.