Cenário Externo
O mês de julho foi marcado por uma continuidade do bom desempenho dos mercados globais, especialmente nos Estados Unidos, apesar da persistência de incertezas ligadas à política comercial e à trajetória da inflação. A economia americana segue demonstrando resiliência, com o PIB do segundo trimestre crescendo acima do esperado, impulsionado principalmente pela demanda doméstica. O consumo das famílias, mesmo que em ritmo um pouco mais moderado, continua sustentando o crescimento, confirmando que a maior economia do mundo permanece em terreno saudável, apesar das pressões inflacionárias e das políticas monetárias mais restritivas em vigor desde 2022.
No campo da política monetária, o Federal Reserve manteve as taxas de juros inalteradas, entre 4,25% e 4,5%, mas reforçou o compromisso com o combate à inflação. A leitura do mercado é de que a autoridade monetária está confortável em manter os juros elevados por mais tempo, especialmente diante dos sinais de reaceleração nos índices de preços. O CPI de junho registrou alta de 0,3% no mês, voltando a subir no acumulado em 12 meses, puxado principalmente por alimentos, vestuário e itens manufaturados – setores diretamente impactados pelas tarifas comerciais. O núcleo da inflação também se mostrou pressionado, evidenciando que os custos adicionais oriundos das tarifas impostas nos últimos meses começam a ser parcialmente repassados ao consumidor final.
O contexto das tarifas comerciais segue sendo uma variável crítica para o comportamento futuro da inflação e da atividade global. Após meses de tensão, os Estados Unidos avançaram em acordos com a União Europeia, Japão e Coreia do Sul, amenizando parte da retórica protecionista do governo americano. No entanto, países estratégicos como China, México, Índia e Brasil ainda enfrentam barreiras tarifárias elevadas. A atual administração dos EUA adota uma postura de negociação agressiva, com ameaças tarifárias iniciais que são parcialmente revistas em um segundo momento, o que o mercado tem chamado de “TACO Trade” (Trump Always Chicken Out). A expectativa majoritária do mercado, que há poucas semanas precificava um início de flexibilização em setembro, agora foi adiada. Nesse contexto, a política monetária segue restritiva, mas a narrativa de “pouso suave” ou desaceleração da economia ainda é válida, com os dados de atividade e emprego apontando para desaceleração moderada e não para uma recessão iminente.
Cenário Local
No Brasil, o ambiente de investimentos foi impactado negativamente pelas tensões comerciais com os Estados Unidos. O anúncio de tarifas de até 50% sobre diversos produtos brasileiros provocou forte reação nos mercados, com queda do Ibovespa, valorização do dólar e aumento do prêmio de risco do país. A situação, no entanto, foi parcialmente revertida após o governo americano anunciar uma série de isenções que reduziram o impacto efetivo da medida. Setores estratégicos como celulose, petróleo e aviação foram poupados das tarifas majoradas, o que trouxe algum alívio aos investidores. Ainda assim, os produtos afetados – entre eles carne, café, aço e alumínio – seguem sob pressão e podem sofrer perda de competitividade nos próximos trimestres. Estimativas atualizadas indicam que o impacto no PIB brasileiro foi revisado de -0,3 p.p. para -0,15 p.p., o que confirma que o dano imediato é limitado, mas não anula o risco de deterioração adicional caso o ambiente geopolítico volte a se deteriorar.
Em paralelo, O Copom manteve a Taxa Selic estável em 15%, como era amplamente esperado, mantendo a mensagem de juros estáveis no horizonte relevante de tempo em meio à elevação das expectativas de inflação e ao aumento das incertezas externas. Apesar da inflação corrente apresentar melhora, com os serviços finalmente mostrando sinais de desaceleração, o ambiente fiscal e o cenário internacional exigem cautela. O real depreciado e o ruído institucional com os EUA adicionam pressão inflacionária, o que dificulta novas quedas da taxa básica de juros no curto prazo. Com isso, o cenário mais provável é de estabilidade da Selic ao longo do segundo semestre, com cortes voltando apenas em 2026, a depender da evolução das expectativas.
No campo político, o governo federal tem ganhado apoio popular, o que fortalece sua posição diante de um Congresso fragmentado. No entanto, as tensões institucionais, como a sanção de membros do STF pela Lei Magnitsky dos EUA, adicionaram ruído ao ambiente doméstico. A aproximação do ciclo eleitoral de 2026 também começa a influenciar as decisões de política econômica, o que pode trazer volatilidade adicional aos ativos locais.
Renda Fixa
Julho foi marcado por maior instabilidade na curva de juros, refletindo incertezas fiscais e o aumento das tarifas dos EUA contra o Brasil. A Selic foi mantida em 15%, com o Banco Central reforçando cautela diante da desaceleração econômica e da inflação sob controle. A curva (expectativa de juros) passou a precificar manutenção da Selic por mais tempo, com fundamentos ainda contracionistas, mas sujeitos a riscos crescentes no ambiente doméstico e externo.
O CDI avançou +0,89%, o IRFM caiu -0,19% e o IMA-B teve queda de -0,74%.
Renda Variável
O S&P 500 subiu +2,17%, impulsionado por resultados corporativos positivos. O índice MSCI AC, que representa uma cesta de ações globais, também avançou +1,28%, com destaque para os emergentes e a forte recuperação da China. Nos EUA, cerca de dois terços das empresas do S&P 500 já divulgaram seus balanços e mais de 80% superaram as estimativas tanto de lucro quanto de receita. O destaque segue com as gigantes de tecnologia, que têm se beneficiado diretamente do avanço da Inteligência Artificial, tanto na infraestrutura quanto na monetização, como visto em Microsoft, Meta e Alphabet.
O Ibovespa contrariou o bom desempenho externo e recuou -4,1% em julho, impactado pela piora do cenário geopolítico e econômico. A imposição de tarifas pelos EUA sobre produtos brasileiros gerou aversão ao risco, levando investidores estrangeiros a retirarem cerca de R$ 10 bilhões da bolsa.