Carta Mensal – Setembro / 2023

O mês foi marcado por movimentos de queda nas bolsas globais, liderados por um aumento da expectativa de juros nos EUA, explicado por uma sinalização hawkish (comunicado caracterizado pela elevação de juros e contração monetária) por parte do Fed (Banco Central Americano) quanto a trajetória de política monetária.

A China, por sua vez, mostra alguns sinais de estabilização de sua demanda doméstica, ainda que não exibindo uma recuperação exuberante. Tal fato também não se estende ao setor imobiliário, que segue enfrentando problemas de confiança no curto prazo e precisará de mais alguns meses para que os estímulos comecem a apresentar os seus reais efeitos, sobretudo os cortes das taxas de juros. Por outro lado, a estabilização é um fator importante para estancar o movimento de revisão baixista de crescimento para esse e para o próximo ano.

No Brasil, além de seguir os fortes ventos direcionados pelo mercado internacional, o mercado local volta a prestar atenção com as novas notícias da incerteza fiscal e, na política monetária, COPOM faz corte de 0,50p.p. como era esperado, mas elevou suas preocupações com as surpresas altistas da atividade (e da incerteza fiscal) nas expectativas de inflação. O comunicado afastou o debate em torno da aceleração dos cortes na taxa Selic, aproximando do nosso cenário de Selic em 11,75% ao final deste ano e sem acelerações nos cortes de juros ao longo de todo o ciclo, ao menos por agora.

O risco doméstico também acabou alertando muitos pontos sobre incerteza fiscal: (i) atividade mais forte não tem refletido maior arrecadação; (ii) desconfiança sobre a manutenção do recém aprovado arcabouço, dado o risco de contingenciamento das despesas no próximo ano e, agora, (iv) a AGU (Advocacia Geral da União) entrou com recurso no STF pedindo a inconstitucionalidade do “teto dos precatórios” e que o governo execute o pagamento total da rubrica. Soma-se a este cenário, os dados recentes de atividade que mostram resiliência do setor de serviços e de construção civil – surpreendente dado o tempo contracionista dos juros –, segmentos que empregam bastante e elevam a renda disponível das famílias. Todos estes fatores jogam as expectativas de inflação para cima, sobretudo em prazos mais longos.

Renda Fixa

Conforme abordado no cenário internacional, o movimento dos juros americanos de 10 anos aumentou (60 bps) nos últimos 30 dias atingindo o maior nível dos últimos 15 anos. No mesmo período, o juro brasileiro de 10 anos subiu (100bps).

Neste ambiente, optamos pela manutenção nas posições de renda fixa, dado que alongar os vencimentos das alocações seria adicionar risco desnecessário para as carteiras e, encurtar, não é uma opção por entendermos que o movimento global dos juros não tende a ser uma reversão estrutural de cenário.

Continuamos bem alocados na classe de pós-fixados, sendo um importante fator de liquidez para a carteira e com um retorno acima de dois dígitos ao ano, mesmo com a queda da Selic. Outro ponto fundamental, é que a classe diminui a volatilidade de nossas carteiras.

Para os ativos prefixados e ativos de inflação vemos melhora no ponto de entrada em razão da abertura da curva em todos os vértices. Continuamos gostando de vencimentos mais longos para ativos de inflação, dado o alto carrego dos títulos IPCA +.

Multimercado

Em setembro, o índice IHFA (Índice de Fundos Multimercados) teve performance negativa até 28/09 (-0,17%), enquanto no ano acumula alta de +4,57% e em 12 meses 4,95%, com a classe de multimercados rodando, em média, ainda bem baixo do CDI em 2023 e na janela de 12 meses.

A posição busca capturar a gestão ativa, sobretudo em cesta de moedas e curvas de juros estrangeiras que usualmente não temos exposição direta. Continua sendo importante geradora de resultado no ano por uma questão de diversificação.

Renda Variável

O cenário de renda variável à frente segue dependente da evolução das taxas de juros locais e globais, bem como o apetite ao risco de uma maneira mais geral. Além disso, se o cenário de China melhorar, pode interferir na percepção do Brasil como uma alternativa importante para alocação.

Por outro lado, entendemos que a temporada de resultados do 3T23 pode ser um trigger importante para evolução positiva da bolsa doméstica, mas também uma sazonalidade favorável para o final do ano.

No lado de fundamentos, os ativos locais seguem descontados, enquanto destacamos a continuidade do viés para ativos de qualidades, que devem surfar o movimento de redução do custo financeiro dado a queda da Selic, bem como seguem gerando caixa e com elevada distribuição esperada de dividendos. Apesar dos maiores riscos do cenário externo, entendemos que a classe deve se beneficiar do cenário do novo ciclo de juros nos próximos 6 a 12 meses.

Em relação ao mercado americano e desenvolvidos, permanecemos mais cautelosos como havíamos dito previamente em outras cartas.

Em caso de dúvidas não hesite em nos contatar!