No cenário global, vemos uma moderação no crescimento das principais economias, com sinais de desaceleração, mas ainda sustentando atividade robusta. Nos Estados Unidos, o PIB reduziu levemente seu ritmo de +3,0% para +2,8% no terceiro trimestre, e a desinflação prossegue. O ambiente, então, favorece a continuidade dos cortes de juros pelo Federal Reserve.
No entanto, a proximidade das eleições presidenciais americanas, marcadas para 5 de novembro, trouxe maior volatilidade. As pesquisas refletem uma disputa acirrada entre os candidatos Donald Trump e Kamala Harris, ambos com intenções de manter elevados os gastos públicos. No caso de uma vitória republicana, é esperado um impulso maior no crescimento econômico sem o correspondente aumento de arrecadação, podendo gerar um impacto inflacionário. O candidato Trump também favorece taxações mais severas sobre importações da China e da Europa, o que tende a pressionar os preços.
Esse contexto tem levado o mercado a precificar uma vitória de Trump, o que inclui expectativas de crescimento mais acelerado, inflação em alta e cortes de juros menos intensos. Os juros de longo prazo nos EUA subiram para o nível mais alto desde julho, o dólar valorizou frente a outras moedas, e as bolsas americanas continuaram resilientes, apoiadas também por uma temporada de resultados corporativos positivos até o momento.
Na Europa, os sinais de recessão aumentam, e a expectativa é de que os cortes de juros possam ser acelerados a partir de dezembro. Na China, o governo anunciou um pacote robusto de estímulos à economia e novos cortes de juros em resposta às dificuldades de alcançar a meta de crescimento de 5% para 2024.
No Brasil, a economia continua a crescer acima do esperado, em grande parte impulsionada pelo aumento dos gastos públicos, o que também pressiona a inflação. A atividade econômica, medida pelo IBC-Br, subiu +3,1% em agosto, e a taxa de desemprego recuou para 6,4% em setembro. Contudo, essa dinâmica também eleva as expectativas de inflação e afasta a economia da meta estipulada, o que deve levar o Banco Central a intensificar os aumentos na taxa Selic para 50 pontos-base na próxima reunião, alcançando 11,25% ao ano.
A política fiscal expansionista (aumento de gastos) gera preocupação entre os investidores, levando a uma elevação dos prêmios de risco nos juros de longo prazo. Ao final de outubro, a curva de juros brasileira (expectativa média do mercado da taxa Selic em diferentes vencimentos) projetava uma taxa Selic em torno de 13,50% para o início do quarto trimestre de 2025, sem perspectivas de redução no curto prazo.
Renda Fixa
O cenário fiscal e monetário brasileiro trouxe desafios para os ativos de renda fixa em outubro. A alta do câmbio, que atingiu R$5,80, trouxe impacto sobre os ativos de renda fixa, especialmente os de longo prazo. Diante das incertezas externas, como as eleições americanas, e do contexto fiscal interno, a pressão sobre os juros futuros aumentou.
Neste ambiente, o CDI teve uma performance positiva de +0,93%, enquanto outros índices mostraram retornos variados: IMAB (Inflação) recuou -0,65% e IRFM (Prefixados) avançou +0,21%.
Multimercado
O índice IHFA, que mede o retorno médio dos fundos multimercado, registrou um desempenho positivo de +0,57% no mês (dados até 30/10).
As posições médias dos fundos mostram uma diversificação interessante, com exposição leve na bolsa local, compra de ativos na bolsa americana, ouro, e apostas no real contra o dólar. Há também uma aplicação em juros americanos de curto prazo e posições em inflação local, indicando uma estratégia diversificada e cautelosa.
As ações globais passaram por um ajuste em outubro. Nos Estados Unidos, o S&P 500 caiu -0,99%, com os investidores focando na eleição e na temporada de resultados. Apesar da queda, cerca de 75% das empresas reportaram resultados acima das expectativas, o que tem dado suporte ao mercado.
No Brasil, o Ibovespa fechou em -1,60%, pressionado pelo cenário de taxas mais altas e preocupações fiscais. O lado positivo é que, embora o ambiente macroeconômico apresente desafios no médio prazo, as empresas brasileiras estão menos alavancadas do que em crises passadas, o que reduz o risco de quedas significativas nos resultados.
Os investidores encontram-se em uma posição singular, com a atividade econômica mostrando força e favorecendo as empresas, enquanto o cenário de médio prazo indica pressões devido à política fiscal expansiva e o impacto sobre a dívida pública.