Carta Mensal – Novembro/ 2024

No cenário internacional, os holofotes estão voltados para as mudanças na política econômica dos Estados Unidos. O presidente Donald Trump começa a moldar sua equipe econômica com um tom mais moderado do que o discurso de campanha sugeria. Entre os destaques está a indicação de Scott Bessent, veterano de Wall Street, como Secretário do Tesouro. Sua visão prioriza o controle da dívida pública, alinhando-se à chamada “Regra 3-3-3”: reduzir o déficit fiscal para 3% do PIB, manter o crescimento econômico em 3% ao ano e expandir a produção de petróleo em 3 milhões de barris por dia.

Essa abordagem busca combinar crescimento econômico com baixa inflação, o que contrasta com o desempenho de outras regiões como a Zona do Euro, que enfrenta estagnação, e a China, que desacelera. A estratégia reforça a ideia do “excepcionalismo americano”: enquanto o restante do mundo lida com desafios de crescimento, os EUA seguem atraindo capital para ativos de risco.

No entanto, o Federal Reserve permanece cauteloso. A desinflação ocorre de forma irregular, exigindo precaução na condução da política monetária. Após um corte de 0,25% nos juros em novembro, há possibilidade de pausa em dezembro ou mesmo de encerramento do ciclo atual de flexibilização monetária, uma vez que a economia ainda demonstra força.

No Brasil, o governo finalmente apresentou um pacote de medidas para controlar o crescimento das despesas obrigatórias, como salários e benefícios sociais. Apesar de acertar na direção, o impacto estimado ficou aquém do esperado. O governo projeta uma economia de R$ 70 bilhões em 2025 e 2026, enquanto as estimativas do mercado sugerem algo entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões. No anúncio do pacote, o Ministro Haddad misturou o esperado corte de gastos, junto com medidas da Reforma da Renda, o aumento da faixa de isenção do imposto de renda e um imposto mínimo para “grandes fortunas”.

A reação do mercado foi contundente. O dólar ultrapassou R$ 6,00, os juros futuros de 10 anos superaram 13% e o Ibovespa recuou para 124 mil pontos.

Renda Fixa

Com a expectativa de que a taxa Selic alcance patamares próximos a 14% ao longo de 2025, os investimentos atrelados ao CDI tornam-se ainda mais atrativos, especialmente para objetivos de curto prazo, como reservas de emergência ou gestão de caixa. No segmento de renda fixa indexada à inflação (IPCA+), as taxas atuais continuam bastante convidativas. Por exemplo, os títulos IPCA+ com taxas próximas de 7% ao ano, similares àquelas vistas pela última vez em 2014, tiveram desempenho superior ao CDI ao longo dos anos, apesar de apresentarem maior volatilidade, especialmente nos títulos com vencimento mais longo.

Neste ambiente, o CDI teve uma performance positiva de +0,79%, enquanto outros índices mostraram retornos variados: IMAB (Inflação) avançou +0,02% e IRFM (Prefixados) recuou -0,52%.

Multimercado

O índice IHFA, que reflete o retorno médio dos fundos multimercado, apresentou alta de +1,40% no mês. Essa classe de ativos continua sendo uma peça fundamental para carteiras bem estruturadas, oferecendo diversificação em diferentes cenários de mercado.

Entretanto, o desafio está na seleção criteriosa de gestores e fundos. Com o aumento do número de gestores e estratégias, a capacidade de identificar fundos consistentes e bem geridos é essencial. Uma escolha bem fundamentada pode fazer uma diferença significativa no desempenho ao longo do tempo.

Renda Variável

No mercado brasileiro, o Ibovespa encerrou o mês com uma queda de -3,12%. Apesar do recuo, as ações brasileiras continuam sendo negociadas a valuations atrativos, e os fundamentos corporativos permanecem sólidos. Empresas listadas têm apresentado lucros consistentes e recordes nos retornos de caixa para os acionistas. Contudo, o aumento esperado das taxas de juros pode pressionar as projeções de lucro para 2025, gerando um ambiente de maior cautela para investidores.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 registrou um avanço de +5,72%, impulsionado pelo foco dos investidores nas eleições e nos resultados corporativos. A recente reeleição de Donald Trump como presidente trouxe um otimismo adicional para o mercado acionário norte-americano, mesmo com os valuations de muitas empresas em patamares elevados.