Carta Mensal – Julho / 2023

A economia americana continua surpreendendo positivamente, sinalizando um aumento da probabilidade de um soft landing (recessão branda ou sem recessão) nos próximos meses, a despeito da continuidade da alta de juros por parte do FOMC. Nesse sentido, podemos vivenciar um ambiente de recessões setoriais, que alternam entre si ao longo do tempo, mas que não são capazes de criar uma contração sistêmica da economia. Para isso acontecer, é necessária uma deterioração do mercado de trabalho mais evidente.

Por sua vez, a despeito dessa persistência da economia, os dados de inflação parecem mais saudáveis na margem, o que naturalmente tem sido incorporado de forma positiva pelo mercado como um sinal de um ciclo de política monetário mais curto – não só no processo de alta de juros, mas também indica uma potencial fase de cortes.

Dessa forma, a maior parte dos gatilhos negativos do balanço de risco da economia americana ficaram para trás: i) limite da dívida americana; ii) estresse dos bancos regionais; iii) recessão econômica; iv) inflação significativamente acima da meta; v) elevada incerteza sobre a taxa terminal. Tudo isso, somado à uma temporada de resultados ainda positiva do 2T23, sustentam o ambiente para renda variável no curto prazo.

Atualmente, o maior risco para o cenário da inflação permanece sendo o mercado de trabalho apertado, o aumento salarial e, mais recentemente, o aumento esperado dos preços de algumas comodities agrícolas (reflexo do El Niño e da saída de Rússia do acordo de grãos no Mar Negro) e o Petróleo (Arábia Saudita e a Rússia anunciaram recentemente planos de reduzir ainda mais a produção em agosto e problemas geopolíticos na Nigéria).

Por outro lado, nos emergentes, a China segue desapontando em suas principais métricas de crescimento, ao passo que o governo já anunciou pacotes e intenções de suporte a setores-chave.

Brasil

Na agenda local, o mês será marcado pelo início do ciclo de corte de juros, independente do ritmo inicial, será um importante fator para a sustentação do crescimento, da situação fiscal e, principalmente, do apetite por risco. Outro ponto, a entrega do orçamento nesse mês, bem como a volta do Congresso, reanima a pauta política, sobretudo no que tange a agenda da reforma tributária, tema que também será um direcionamento importante para a trajetória das alocações domésticas à frente.

Do lado da atividade, notamos um enfraquecimento relevante do segmento de varejo, principalmente nos subitens mais sensíveis aos juros, como vestuário (-3,3% m/m) e móveis e eletrodomésticos (-0,7% m/m) e a maior surpresa ficou pela queda na venda de supermercados (-1,1% m/m). Por outro lado, o setor de Serviços surpreendeu positivamente, apresentando alta de 0,9% m/m em maio. Considerando todos esses resultados, a referência mensal do PIB, o IBC-Br, apresentou uma queda de 2,0% m/m em maio, ficando bastante abaixo do esperado. Essa leitura reforça a visão de perda de força da economia nos próximos meses, impulsionada por condições financeiras restritivas (juros elevados).

Em julho, o IPCA-15 registrou deflação de 0,07%, acima do esperado pelo consenso de mercado e com uma composição mais favorável. Isso é, a qualidade do indicador foi melhor do que as expectativas e apontam para um processo mais persistente de desinflação. Em 12 meses, o índice de inflação recuou para 3,19% em julho, ante 3,40% em junho.

Em agosto, a volta das atividades parlamentares deve trazer evoluções em torno da reforma tributária sobre a renda. É esperado que o governo edite a MP (Medida Provisória) com finalidade de tributar fundos exclusivos e, talvez, por fim em juros sobre capital próprio, medida que prepararia terreno para a tributação de dividendos. Estes pontos serão importantes para o governo mostrar sua capacidade de arrecadação e cumprimento das metas de primário para os próximos anos.

EUA

O Fed voltou a subir juros em julho, mas comunicação já reforça mais uma vez a proximidade do final do ciclo de juros. A economia americana também volta a registrar crescimento robusto no curto prazo, afastando um risco de recessão. O PIB do 2T23 confirmou a resiliência do consumo americano no período, sustentado pelo setor de serviços e com melhora do ambiente de bens.

Entendemos que o mercado precifica atualmente um cenário de soft landing (pouso suave da economia que corresponde a um ciclo de alta de juros sem recessão), com a consolidação de alguns fatores: i) a manutenção de um mercado de trabalho apertado; ii) ganhos de renda real mais evidentes; iii) recuperação da riqueza, com valorização dos ativos financeiros e imobiliários; iv) retomada da confiança; v) superação do efeito máximo de aperto da política monetária no setor de bens; vi) afrouxamento das condições financeiras. Mas não necessariamente essa representa a nossa visão, permanecemos cautelosos com a economia americana.

China

No lado chinês, a reunião do Politburo foi o grande evento de julho, que confirmou a manutenção da política econômica para sustentar o crescimento, sobretudo com foco na modernização industrial, mas reconheceram os desafios da economia, especialmente em relação à demanda doméstica e cenário internacional.

O comunicado reforçou a necessidade de realizar políticas contracíclicas, além de destacar estímulos ao consumo. No geral, o posicionamento será de uma “política fiscal proativa e monetária prudente”. A maior mudança foi verificada no setor imobiliário, flexibilizando o entendimento de normas para compradores de imóveis que já tinham algum histórico de empréstimo, reduzindo o aporte inicial, a taxa de juros e também as restrições de crédito.

De forma diferente das ocasiões anteriores, o comitê optou por retirar o trecho que dizia “casas são para viver, não para especular”, sugerindo que uma parte importante da demanda (com fins de investimento) pode ser liberada, caso os preços comecem a estabilizar.

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