Carta do Consultor – Dezembro de 2024

Em 2024, os Estados Unidos mantiveram uma posição de destaque, impulsionados por cortes nos juros e uma economia sólida. A perspectiva de crescimento de 3% foi sustentada pela política monetária mais branda, com a taxa de juros em 4,3%. A expectativa de uma nova fase econômica com Donald Trump reforça o “excepcionalismo americano”, prometendo desregulamentação e cortes de impostos que devem manter o dólar forte e atrair investimentos globais.

Enquanto isso, a Europa enfrenta estagnação, e a China lida com a difícil tarefa de estimular sua economia interna. Esses fatores aumentam a dependência global da robustez americana, mas também intensificam os desafios para mercados emergentes, como o Brasil, que sentem o impacto da valorização do dólar e da competição por capital internacional.

O Brasil encerrou o ano com um crescimento econômico de 3,5%, impulsionado pelo consumo e pelos gastos governamentais. No entanto, essa expansão veio acompanhada de desafios significativos: a inflação voltou a subir no último trimestre, com o IPCA alcançando 4,9%, acima do teto da meta. Para conter esse cenário, o Banco Central elevou a Selic para 12,25%, sinalizando novos aumentos em 2025. A expectativa é que a taxa alcance 14,25% até o final do primeiro trimestre.

Além disso, a política fiscal frouxa prejudicou a confiança dos investidores. O ajuste fiscal proposto pelo governo é insuficiente para conter a trajetória da dívida pública e foi significativamente enfraquecido durante a tramitação no Congresso. Isso comprometeu a credibilidade da política fiscal e abalou a confiança dos investidores. Como reflexo, o dólar registrou uma valorização de 27,2% frente ao real, e o juro real de 10 anos atingiu 7,4%, marcando o maior diferencial em relação ao juro real americano desde o governo Dilma.

Renda Fixa

O Banco Central do Brasil tem adotado uma postura mais firme, o que deve manter a taxa Selic próxima de 14% nos primeiros meses de 2025. Essa alta taxa de juros torna investimentos atrelados ao CDI, como CDBs pós-fixados, bastante atrativos, com retornos significativos tanto em valores nominais quanto reais (cerca de 9% acima da inflação). No entanto, essa situação pode mudar se houver avanços na política fiscal ou se o Banco Central conseguir controlar melhor a inflação.

Títulos públicos também estão oferecendo bons retornos para quem pode mantê-los até o vencimento, com taxas em níveis semelhantes aos de crises passadas, como as de 2008 e 2014. Apesar disso, é importante ter cautela devido às incertezas econômicas. Por exemplo, títulos de longo prazo, como a NTN-B 2045, apresentam mais riscos e maior volatilidade do que opções de prazo mais curto, como a NTN-B 2030.

No cenário atual, os índices de referência mostram desempenhos variados. O CDI teve uma performance positiva de +0,93%, enquanto outros índices, como o IMA-B (ligado à inflação), recuaram -2,62%, e o IRFM (prefixados) caiu -1,66%. Esses números reforçam a importância de estratégias bem planejadas e diversificadas na alocação de investimentos.

Multimercado

O índice IHFA, que mede o retorno médio dos fundos multimercado, teve alta de 0,36% no mês.  Os fundos multimercados têm se saído bem recentemente, mas o principal motivo para mantê-los na carteira é sua flexibilidade. Eles podem investir em vários tipos de ativos e mercados, o que é uma grande vantagem em momentos de incerteza e volatilidade econômica. Esses fundos podem ajustar suas estratégias rapidamente, o que ajuda a proteger o portfólio. Além disso, como eles investem em diferentes áreas, oferecem uma boa diversificação, o que ajuda a reduzir os riscos de eventos negativos específicos do mercado. Por isso, esses fundos são uma ferramenta útil para atravessar períodos de incerteza.

Renda Variável

No mercado brasileiro, o Ibovespa fechou o mês com uma queda de -4,28%, refletindo um cenário econômico e político mais desafiador que tem impactado negativamente o mercado. Esses desafios têm superado os fundamentos sólidos e as avaliações atrativas de muitas empresas brasileiras listadas na bolsa.

Já nos Estados Unidos, o S&P 500 teve uma queda de -2,5% em dezembro, em parte devido a uma postura mais rigorosa adotada pelo comitê de política monetária, o que levou investidores a realizarem lucros e pressionou os preços das ações. No entanto, apesar desse recuo no último mês, o índice encerrou o ano com uma alta impressionante de 23,3%. Esse resultado marcou a primeira vez desde os anos 1990 que o S&P 500 registrou dois anos consecutivos de retornos anuais superiores a 20%, destacando a resiliência do mercado americano em meio às incertezas.