Carta do Consultor – Março de 2025

Cenário Externo

O cenário econômico global em março de 2025 foi amplamente dominado pelas incertezas relacionadas à política econômica do governo Trump, influenciando decisões de investimento em escala mundial. Essa instabilidade afetou significativamente a confiança dos investidores.

A atenção do mercado global está particularmente voltada para a política tarifária americana, com analistas antecipando possíveis impactos negativos sobre a economia dos Estados Unidos, incluindo pressões inflacionárias que poderiam desencadear aumentos nas taxas de juros.

Esse cenário de incerteza também está minando a confiança de consumidores e empresários. Quando ambos adotam uma postura mais cautelosa, o consumo e os investimentos tendem a recuar, o que pode gerar uma desaceleração econômica. De certa forma, isso tem pesado no desempenho dos mercados: o S&P 500, por exemplo, teve sua maior desvalorização desde setembro de 2023.

Contribuindo para a saída de recursos do território americano, novas medidas de estímulo na Europa e na China renovaram o ânimo dos investidores nessas regiões. A China anunciou um “plano de ação especial” para estimular o consumo, já na Europa, a Alemanha aprovou um pacote fiscal sem precedentes, focado em defesa e infraestrutura, prevendo o desembolso de €500 bilhões (11,6% do PIB em 2024) ao longo de 10 anos. Isso deve estimular o crescimento nessas duas regiões, enquanto os EUA flertam com a recessão. Em paralelo, vimos sinais de alguma possibilidade de negociação entre Ucrânia e Rússia, mediada pelos EUA. Um avanço nessa frente seria um enorme “risco positivo” ao cenário e, em especial, aos ativos mais dependentes da demanda e da economia europeia.

Cenário Local

No caso brasileiro, tendemos a ser menos afetados pelas tarifas do que os nossos vizinhos, em especial o México. O país destina dois terços de suas exportações aos Estados Unidos, o que tem levado analistas a preverem uma recessão decorrente das taxações em 2025. Essa proporção é de apenas 12% no Brasil, o que nos torna mais protegidos — e podemos, inclusive, nos beneficiar, à medida que a China passa a comprar mais produtos brasileiros em vez de norte-americanos.

O fiscal voltou às manchetes, com a aprovação do Orçamento de 2025 e o envio da proposta de isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. O orçamento veio com a expansão de diversos programas sociais (Pé de Meia, Vale Gás, Minha Casa Minha Vida) e com gastos provavelmente subestimados.

O presidente do Banco Central, Galípolo, fez um comunicado (acertadamente) duro, mantendo o alerta sobre o balanço de riscos altista para a inflação, e sinalizou mais uma alta de menor magnitude em maio. Essa alta será, provavelmente, a penúltima deste ciclo de aperto da Selic, que poderá encerrar o semestre em 15,0% — abaixo dos 15,50% anteriormente consensuais.

Um segundo ponto é a queda de popularidade do governo, cujo índice de aprovação segue pressionado: 54% reprovam, enquanto 41% aprovam, segundo pesquisa Pulso Brasil/Ipespe divulgada no dia 27 de março.

Renda Fixa

O mês de março foi marcado por um aumento na percepção de risco no cenário doméstico. Os principais fatores foram a inflação ainda elevada, a incerteza sobre o crescimento econômico e dúvidas quanto à trajetória da política monetária.

A inflação seguiu pressionando: o IPCA de fevereiro subiu 1,31%, influenciado por reajustes em energia elétrica, aumento do ICMS e despesas escolares. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 5,06%. Embora o IPCA-15 de março tenha vindo abaixo do esperado (0,64% frente a 0,70% projetado), os indicadores mais estruturais continuam acima da meta de 3%, com os núcleos de inflação ainda em aceleração.

Nesse ambiente, o Banco Central elevou a Selic em 1 ponto percentual, levando a taxa para 14,25% ao ano. A decisão já era amplamente esperada pelo mercado e reforça o tom mais firme da autoridade monetária no combate à inflação.

O CDI teve uma performance de +0,96%, o IMA-B (ativos do Tesouro ligados à inflação), +1,84%, e o IRFM (ativos prefixados), +1,39%.

Renda Variável

Nos EUA, temos visto um misto de menor crescimento, inflação persistente e a perspectiva de juros elevados por mais tempo — combinação tipicamente negativa para os ativos de risco.

Para agravar o cenário, os valuations nos EUA permanecem elevados, e a posição técnica dos ativos está longe de ser confortável. Há também sinais de uma possível desaceleração no setor de tecnologia, que tem sido um dos principais motores do mercado.

Diante disso, os ativos americanos continuam exibindo alta volatilidade e sofrem pressão vendedora. Até recentemente, víamos uma rotação de capital dos EUA para outros mercados, beneficiando regiões como China, Europa e Brasil.

O Ibovespa teve uma performance de +6,08%, enquanto o S&P 500 recuou -5,75%.