Cenário Externo
Em fevereiro, as bolsas americanas perdem parte do brilho com a possibilidade de menos cortes de juros e desaceleração da atividade, além da recuperação de outras regiões do globo (Europa e China principalmente). Uma das grandes discussões no mercado foi o desempenho das chamadas Magnificent 7, as gigantes da tecnologia da bolsa americana que lideraram os ganhos nos últimos anos. Curiosamente, elas apresentaram um desempenho inferior ao de setores mais tradicionais, sinalizando que o mercado está reavaliando suas expectativas.
Em janeiro, tivemos o efeito DeepSeek, a startup chinesa que desenvolveu modelos de IA tão ou mais eficientes que o ChatGPT, mas usando uma fração dos recursos financeiros. Porém, outras preocupações surgiram ao longo de fevereiro. As políticas do novo governo Trump geraram volatilidade, especialmente no que diz respeito às tarifas comerciais. O mercado segue atento ao impacto dessas medidas tanto na inflação quanto no crescimento econômico. Os dados de inflação nos EUA, medidos pelo CPI (Índice de Preços ao Consumidor) e PPI (Índice de Preços ao Produtor), vieram acima do esperado, reforçando o temor de que a inflação ainda está resistente. Por outro lado, as vendas no varejo e dados de confiança do consumidor caíram mais do que o esperado, o que pode indicar uma desaceleração econômica.
Essa dualidade, inflação persistente versus possível enfraquecimento da economia torna as decisões do Federal Reserve (Fed) ainda mais delicadas. O PCE, principal indicador de inflação usado pelo Fed, ainda está acima da meta de 2%, o que reduz a margem para cortes mais agressivos na taxa de juros. No entanto, a desaceleração da economia pode pressionar o banco central a aliviar a política monetária.
Na Europa, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra, já indicaram a possibilidade de reduzir suas taxas básicas para estimular as economias locais. Soma-se a isso o fato que o sentimento em outros países como Alemanha e França, com todos os seus problemas cíclicos e estruturais, aparentam estar em níveis extremamente negativos, com pouco espaço para piora o que tem gerado expectativa para os investidores. No cenário global, a China também voltou ao radar dos investidores, com possíveis novos estímulos econômicos e um maior interesse na sua indústria de inteligência artificial.
Cenário Local
No Brasil, o cenário econômico tem mostrado sinais mistos, mas menos alarmantes do que o inicialmente temido. A inflação, medida pelo IPCA-15 de fevereiro, registrou alta de 4,96% no acumulado de 12 meses, abaixo da projeção de 5,10% do mercado. Embora tenha sido a maior variação para fevereiro desde 2016, o dado sugere que o ciclo de revisões altistas na taxa Selic pode estar terminando.
Por outro lado, começam a surgir sinais de desaceleração na economia brasileira. Indicadores de consumo e crédito mostram um arrefecimento da atividade, o que pode reforçar a necessidade de uma política monetária mais branda no futuro. Entretanto, o impacto disso na popularidade do governo impulsionou novos estímulos fiscais, com a ampliação de programas sociais e aumento de gastos públicos.
O grande desafio agora é encontrar um equilíbrio entre estímulo econômico e responsabilidade fiscal. Apesar da ausência de um gatilho claro para a valorização no curto prazo, momentos de pessimismo exagerado frequentemente criam boas oportunidades para alocações estratégicas.
Renda Fixa
O Banco Central do Brasil manteve uma postura firme no combate à inflação, com o diretor de política monetária reafirmando planos para um aumento de 100 pontos-base na taxa de juros na próxima reunião. A taxa Selic segue elevada, favorecendo alocações em títulos públicos e emissores bancários de alta qualidade. No crédito privado, a dispersão dos prêmios exige maior seletividade, especialmente em títulos de longo prazo e emissores mais alavancados.
Em fevereiro, o CDI subiu 0,99%, o IMA-B avançou 0,50% e o IRFM teve alta de 0,61%.
Renda Variável
Fevereiro foi um mês de ajustes nos mercados globais. Nos EUA, os principais índices caíram (S&P 500: -1,4%, Nasdaq: -2,8%), com destaque para a realização de lucros no setor de tecnologia, enquanto na China e na Europa, as bolsas se destacaram positivamente, refletindo uma realocação global de capital.
No Brasil, o Ibovespa recuou 2,6% em reais e 3,5%, os investidores voltaram a olhar para os fundamentos das empresas, influenciados pelos balanços do 4º trimestre de 2024. O cenário político também continuou no radar, aumentando a cautela dos investidores.
Outro fator importante foi o mercado de trabalho. O forte crescimento na geração de empregos em janeiro elevou as expectativas de inflação, fazendo com que os juros futuros subissem. Isso impactou negativamente as ações na bolsa, já que taxas de juros mais altas tendem a reduzir a atratividade da renda variável.