O segundo mandato de Donald Trump tem sido menos turbulento do que o esperado, especialmente no que diz respeito às tarifas comerciais. Essa postura mais moderada beneficia os mercados emergentes ao reduzir as expectativas inflacionárias nos Estados Unidos, diminuindo, consequentemente, a necessidade de novas altas de juros por lá. Esse alívio foi reforçado pelo índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI), que registrou a menor inflação mensal desde julho de 2024.
Entretanto, o crescimento sólido da economia dos EUA, que fechou 2024 com uma expansão de 2,8%, e o mercado de trabalho aquecido sustentam o consumo e ainda exercem pressão inflacionária. Além disso, a política comercial de Trump continua sendo um ponto de atenção, especialmente se houver novas tarifas ao longo do ano.
Uma sinalização de cortes nos juros nos EUA é essencial para que os ativos brasileiros se tornem mais atraentes. Afinal, se a renda fixa norte-americana continua pagando bem, os investidores tendem a evitar mercados emergentes, principalmente aqueles com fragilidades fiscais, como o Brasil.
Outro fator que impactou a alocação de capital global foi a euforia em torno da inteligência artificial (IA). Nos últimos anos, vimos uma valorização consistente das empresas envolvidas nessa tese, com um fluxo de recursos direcionado fortemente para esse setor. No entanto, o lançamento do modelo DeepSeek, que trouxe mais eficiência e custos reduzidos, fez com que a narrativa de IA perdesse parte de seu brilho.
Cenário Local
No cenário doméstico, o mês também foi marcado pela primeira reunião do Copom sob a liderança de Gabriel Galípolo. A transição na presidência do Banco Central gerou preocupações sobre uma possível influência política na condução da política monetária. No entanto, grande parte das incertezas foi dissipada após a reunião, na qual o Copom optou por elevar a Selic em +100 bps, para 13,25%, e sinalizou uma nova alta de mesma magnitude na próxima decisão, reforçando o compromisso com o combate à inflação.
Além disso, o chamado “Evento PIX” teve um impacto político relevante, afetando a popularidade do governo e levando Lula a adotar um discurso mais moderado. Há até especulações sobre a possibilidade de ele não concorrer à reeleição em 2026, o que elevou as expectativas de uma alternância de poder. Esse movimento foi reforçado pelo próprio presidente ao apoiar a decisão do Banco Central e ao afirmar que a Petrobras continuará sendo responsável por definir os preços dos combustíveis, reduzindo temores de interferência estatal.
Apesar de janeiro não ter apresentado avanços significativos nos fundamentos da economia brasileira (afinal, o problema fiscal segue sem solução), o forte desempenho da Bolsa ilustra um padrão comum em mercados excessivamente pessimistas: quando as expectativas já são muito negativas, qualquer notícia menos ruim pode ser suficiente para impulsionar os preços dos ativos. O ano de 2025 promete ser desafiador, mas o pessimismo extremo pode abrir espaço para surpresas positivas, mesmo que elas não sejam tão boas assim.
Renda Fixa
O Banco Central do Brasil tem adotado uma postura mais firme, o que deve manter a taxa Selic próxima de 14% nos primeiros meses de 2025. Essa alta taxa de juros torna investimentos atrelados ao CDI, como CDBs pós-fixados, bastante atrativos, com retornos significativos tanto em valores nominais quanto reais (cerca de 9% acima da inflação). No entanto, essa situação pode mudar se houver avanços na política fiscal ou se o Banco Central conseguir controlar melhor a inflação.
Títulos públicos também estão oferecendo bons retornos para quem pode mantê-los até o vencimento, com taxas em níveis semelhantes aos de crises passadas, como as de 2008 e 2014. Apesar disso, é importante ter cautela devido às incertezas econômicas. Por exemplo, títulos de longo prazo, como a NTN-B 2045, apresentam mais riscos e maior volatilidade do que opções de prazo mais curto, como a NTN-B 2030.
O CDI teve uma performance de +1,01%, o IMA-B (ligado à inflação), +1,24%, e o IRFM (prefixados) +2,78%.
Renda Variável
Apesar da falta de uma melhora concreta nos fundamentos da economia brasileira em janeiro (afinal, o problema fiscal segue sem solução), o Ibovespa surpreendeu com uma forte valorização. Esse movimento acontece porque, muitas vezes, o mercado já precifica um cenário extremamente negativo. Assim, quando as notícias são apenas “menos ruins” do que o esperado, os investidores se sentem mais confiantes e os preços dos ativos sobem.
Isso reflete bem nossa visão para os ativos brasileiros no momento. O ano de 2025 promete ser desafiador, mas o pessimismo elevado abre espaço para surpresas positivas – mesmo que elas não sejam necessariamente boas. No final, janeiro fechou com uma alta respeitável de +4,9% no Ibovespa.
No cenário internacional, o S&P 500 também teve um bom desempenho, subindo 2,7% no mês. Entre os principais fatores que movimentaram os mercados, destacam-se: novas tecnologias podem afetar diretamente setores ligados ao ciclo de investimentos em infraestrutura tecnológica, o banco central dos EUA manteve os juros inalterados, marcando uma pausa no ciclo de cortes iniciado anteriormente e debates sobre imigração, tarifas, cortes de impostos e desregulação influenciaram as expectativas do mercado.