Carta Mensal – Abril / 2023

Enquanto os mercados locais têm se concentrado na nova regra fiscal, o tópico principal nos mercados financeiros é a interrupção do aumento das taxas de juros pelo Federal Reserve (Banco Central dos EUA). Essa pausa pode ser um sinal claro de que o aumento das taxas de juros nos EUA está chegando ao fim, o que é um sinal importante que os investidores costumam prestar atenção.

Agora, a próxima etapa é determinar quanto tempo essa pausa nos aumentos das taxas de juros vai durar. Para entender isso, é necessário analisar a mudança na economia de um estado de desaceleração para um possível estado recessivo, que o Federal Reserve já está considerando. Se isso for verdade, a autoridade monetária poderia considerar uma queda de juros em um horizonte não muito distante.

Embora acreditemos que é um pouco cedo para discutir a redução das taxas de juros, dado o progresso dos indicadores econômicos, sabemos que esse será o assunto mais importante nos próximos meses, envolvendo análises do mercado de crédito, do mercado de trabalho e da evolução da inflação.

EUA

Depois de um mês de março turbulento, com a quebra do Silicon Valley Bank e a compra do Credit Suisse, os mercados globais se estabilizaram um pouco no final de março e abril, e o S&P500 subiu 1,46% no mês apesar de que a crise bancária americana tenha tido outro capítulo neste fim de semana, com o resgate do First Republic Bank pelo JPMorgan, os mercados já pareciam estar esperando por isso. O grande desafio agora é prever qual será o impacto do mercado de crédito mais  pertado nos próximos meses.

Em geral, houve uma estabilização na tensão bancária nas últimas semanas, embora ainda haja riscos no médio prazo, especialmente em relação às instituições menores expostas ao mercado de crédito imobiliário corporativo. No entanto, há ferramentas para lidar com futuras tensões. É provável que os bancos continuem tornando as condições de crédito mais rigorosas, o que nos leva a crer em um aumento do risco de uma recessão mais forte do que o mercado espera hoje.

Quanto à inflação, houve uma perspectiva mais positiva em março, especialmente em relação aos serviços, que são menos voláteis. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) foi de 0,05% em março em comparação com a expectativa de 0,20%. No entanto, mesmo nessas métricas subjacentes, as médias móveis de 3 e 6 meses anualizadas mostram uma inflação elevada (entre 4,5% e 5%), sugerindo que a tendência de inflação continua desafiadora para alcançar um CPI abaixo de 3% neste ano. A inflação não terá mais a ajuda da deflação de energia e bens nos próximos meses, portanto, é provável que continue a apresentar números mensais elevados.

Brasil

No Brasil, o debate econômico deve continuar centrado no novo arcabouço fiscal, que teve suas diretrizes gerais anunciadas em março e o projeto de lei enviado ao Congresso em abril. Estamos em uma fase importante de definição de nossos princípios para os próximos quatro anos, com uma nova regra fiscal sendo desenvolvida e levantando mais dúvidas do que certezas no curto prazo.

De acordo com o Ministro da Fazenda, a proposta apresentaria um limite para o crescimento das despesas, baseado no crescimento das receitas passadas, bem como uma meta para o resultado primário (arrecadação menos despesas).

A novidade dessa vez é que algumas exceções foram incluídas na proposta. Uma delas chama a atenção: caso a meta para o resultado primário não seja cumprida, não haverá qualquer tipo de responsabilização. Segundo o texto, “o descumprimento da meta não configura infração a esta lei complementar”. Isso significa que a única consequência ao não cumprimento da meta de primário será a redução do crescimento real da despesa primária.

Isso acende um alerta, pois as metas definidas são ambiciosas e exigirão forte elevação de receitas. Além das novas formas de arrecadação já divulgadas, será preciso gerar mais receita. A questão que surge é de onde virá todo esse dinheiro.

Sobre a Selic, mesmo com a divulgação do texto oficial do novo arcabouço fiscal, o Banco Central deixou claro que a apresentação do plano não teria uma relação direta com a redução das expectativas de inflação. Adicionalmente, os riscos em torno do sistema de metas de inflação, que residem até o fim de junho, deveriam manter a postura conservadora da autoridade monetária. Em relação aos dados mais recentes, o índice IPCA-15 teve uma piora na sua composição, mas os dados de serviços e emprego (CAGED) foram surpreendentemente positivos.

Contudo, a depender da evolução do novo plano fiscal no Congresso e da deterioração mais intensa das condições de crédito, pode haver um espaço para antecipação do ciclo de corte na taxa Selic.

China

A China teve um bom desempenho no primeiro trimestre do ano, com sua economia crescendo mais do que o esperado, especialmente devido à demanda interna. Isso se deve à reabertura de muitas atividades econômicas desde o final do ano passado. As vendas no varejo também surpreenderam positivamente em março, crescendo ainda mais do que o previsto. Além disso, um indicador de serviços também mostrou que a recuperação econômica continua em abril. No futuro, para que o consumo continue se recuperando, é importante que a renda aumente e que o consumidor se sinta mais confiante.

Europa

O ciclo de alta de juros na Europa é muito mais recente e, portanto, seu impacto negativo sobre a economia ainda está no início, enquanto o Fed já está claramente mais avançado nesse processo e uma parte maior do impacto sobre crescimento econômico já tende a ter ficado para trás. Os membros ainda pontuam a necessidade de novos aumentos de juros nas próximas reuniões, não apenas em maio – se o cenário base permanecer, ou seja, sem estresse financeiro.

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