Carta Mensal – Junho / 2023

No início deste ano, havia expectativas de um um cenário desafiador para a economia global e desaceleração da atividade no Brasil. Entretanto, o cenário observado foi de resiliência, juntamente com uma melhor percepção de risco no Brasil.

No cenário global, em muito foi subestimado o efeito que a poupança acumulada durante o período da pandemia teria no consumo e, consequentemente, no emprego. Nos dois últimos meses, vimos surpresas positivas de crescimento, mercados de trabalho surpreendentemente forte a essa altura do ciclo econômico, o que não era esperado.

No Brasil, subestimamos a força do agro e do impulso fiscal, promovido tanto pelo governo anterior quanto pelo atual. A combinação desses elementos resultou em um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, próximo de 4% no primeiro semestre, em termos anuais, ultrapassando mais que o dobro do estimado como potencial para o PIB.

Cenário Local

O início do governo Lula foi marcado por um fluxo intenso de “notícias negativas”, com frustações frequentes daqueles que esperavam um tom mais moderado do presidente.

Após a divulgação do arcabouço fiscal e com as expectativas já adaptadas à nova realidade, vivemos uma onda de notícias positivas tanto no cenário externo quanto local, os ativos locais seguiram mostrando boa performance em junho. Apesar de um arcabouço fiscal frágil, a manutenção pelo CMN das metas de inflação em 3% para o médio prazo contribuiu para o cenário benigno ao reverter o custoso ruído criado pelo Governo em torno do tema no início do ano. Além disso, estamos às vésperas de um ciclo de corte de juros que deve iniciar já em agosto devido as surpresas baixistas de inflação divulgadas.

Apesar de estarmos mais otimistas no curto prazo, certamente o PIB não deve manter o momento observado no primeiro semestre. E talvez, com essa desaceleração e maior proximidade de mudança na liderança do banco central, fantasmas fiscais e inflacionários podem voltar a assombrar nossa economia.

Cenário Global

No contexto global, a situação atual apresenta semelhanças com o que foi observado no início do primeiro semestre, mas foi desmontada de forma gradual nos meses subsequentes. Inicialmente, a economia mundial apresentava sinais evidentes de desaceleração do crescimento, ao mesmo tempo em que a inflação permanecia alta, embora com uma trajetória menos intensa. Nesse cenário, os Bancos Centrais estariam se aproximando do fim do ciclo de aumento das taxas de juros.

Levando em consideração a resiliência do mercado de trabalho global, especialmente nos países ocidentais, continuamos com o mesmo questionamento, o quão próximos estamos do fim do ciclo de aperto monetário global? Esta incerteza segue condicionando os preços de ativos no mercado internacional. Durante esse período, é crucial avaliar a capacidade da atividade econômica, especialmente da demanda doméstica, em absorver os impactos. Por sua vez, o mercado de trabalho permanece forte, com criação de empregos sólida. Apesar do leve aumento no endividamento das famílias, o nível segue abaixo da média pré-pandemia e afasta a chance de queda na demanda nesse momento.

Portanto, o tema central atualmente é a capacidade de antecipar ou não uma recessão, que representa o principal risco para classes de ativos mais voláteis, como o mercado de ações.

Com relação à China, continuamos a observar uma atividade em desaceleração, com números no segundo trimestre bem inferiores ao esperado pelo mercado. O país enfrenta condições distintas em relação ao cenário ocidental, a desaceleração econômica será combatida seguindo as estratégias usuais, que envolvem estímulos monetários, apoio fiscal e relaxamento das restrições em setores específicos, com destaque para o setor imobiliário e automotivo.

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