Carta Mensal – Agosto / 2023

O mês de agosto surpreendeu os mercados com um movimento de correção mais intenso do que o esperado, liderado pelo movimento das taxas de juros mais longas nos EUA. Em reação a esse ambiente, houve uma precificação das taxas de juros longas, em particular nos EUA, onde o elevado déficit fiscal trouxe a perspectiva de um aumento do volume maior do que esperado de emissões de títulos do tesouro americano.

O movimento resultante, colocou em xeque o cenário benigno de “goldilocks”, uma desaceleração sem causar grandes danos a economia, que se antecipava ao final de julho, criando um ambiente contrário de volatilidade e fortalecimento da moeda americana.

Resolvemos sintetizar a união de diversos fatores técnicos ocorreram ao mesmo tempo: i) o mês é marcado pelo verão americano e pela redução da liquidez dos mercados, além de momento oportuno para “realizar” o lucro do primeiro trimestre; ii) o Tesouro americano acelerou o volume de leilões no 3T23, puxado pela programação do mês de agosto e focado em duration mais longas; iii) os novos dados revelaram um crescimento mais sólido nos EUA, levantando a discussão de uma política que ficará restritiva por mais tempo; iv) aversão a risco em outros mercados, principalmente puxados pela deterioração do cenário de China.

China

No curto prazo, a desaceleração do crescimento chinês tem chamado mais atenção, não só pela piora da dinâmica no setor imobiliário, com menor volume de vendas, mas principalmente pela perda de tração de outros setores ligados a economia doméstica, caso do varejo, que liderava a retomada do país após o processo de reabertura.

Na virada do ano, esperava-se que uma grande mudança positiva nas perspectivas econômicas globais fosse a recuperação econômica da China, depois que os formuladores de políticas mudaram o pêndulo para o lado pró-crescimento no final do ano passado. Os indicadores de mobilidade, como voos domésticos, fluxos de metrô e tráfego de automóveis, ultrapassaram os níveis de 2019, dado a remoção nas restrições de mobilidade. Mas o consumo não se expandiu além das viagens e do lazer para outros itens, como bens caros e compras de serviços.

Embora o governo já tenha adotado algumas medidas para tentar estabilizar o crescimento, ainda vemos o movimento como insuficiente. O fato acaba sendo um vento menos favorável para mercados emergentes no curto prazo.

Brasil

No Brasil, o retorno das atividades no parlamento foi marcado por intensas pautas arrecadatórias em função do Projeto de Lei Orçamentária Anual 2024 que demanda inclusão de receitas em R$170 bilhões para o governo manter a previsão de zerar o déficit em 2024.

A manutenção da meta de déficit primário em zero, para 2024, foi um desenvolvimento positivo. A manutenção desse compromisso deve ser lida como uma importante sinalização, pois a mudança da meta implicaria o não acionamento dos gatilhos do recém aprovado arcabouço fiscal, e consequente maior crescimento de gastos, fragilizando o arcabouço já no primeiro ano de sua vigência.

Do lado da economia, o PIB do 2T23 mostrou uma resiliência acima do esperado da atividade, subindo as projeções do PIB para 2023 em todo mercado.

As revisões melhoram as perspectivas de arrecadação e de endividamento relativo ao PIB, mas podem dificultar a reancoragem parcial das expectativas de inflação que vinha ocorrendo há alguns meses. Agora, os recentes dados de serviços e emprego, (taxa de desemprego foi para 7,9%, o menor nível de 2014) não dão sinais de enfraquecimento aparente da atividade e, portanto, eleva a barra para reduções significativas nas expectativas de inflação. Neste ambiente, vemos com mais dificuldade a aceleração dos cortes de juros neste ano além do já está previsto na curva de juros.

EUA

A economia americana segue surpreendendo positivamente no curto prazo, principalmente pela resiliência da atividade. Por outro lado, o mercado de trabalho registrou ajuste para baixo nas vagas em aberto, o que, combinado à queda registrada nos pedidos voluntários de demissão, sugere uma dinâmica menos favorável para a criação de empregos, à frente. Já os índices de preço continuam mostrando que a desinflação segue seu curso, tanto nas componentes de serviços, quanto às relativas a bens.

A evolução do quadro, especialmente no que se refere à desaceleração do mercado de trabalho, muda, na nossa visão, a perspectiva para a política monetária nos EUA. A probabilidade de que o FED já tenha encerrado o ciclo de alta de juros, na nossa opinião, aumentou.

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